Há dez anos, a frase “política não se discute” encontraria um lar na maioria da população brasileira. No entanto, desde as Jornadas de Junho de 2013 e com a massificação das redes sociais, percebe-se um significativo aumento do interesse pelos temas da política institucional do país. Não importa se o debate é predominado por argumentações baseadas em estudos ou opiniões advindas de fake news de correntes de Whatsapp: a política virou um tema recorrente do nosso cotidiano. Embora o desinteresse e a apatia pelo que ocorre no mundo da política institucional ainda existam, é evidente que as pessoas (em maior ou menor grau) querem externalizar seu pensamento e emitir sua opinião sobre o assunto.
No entanto, interesse e conhecimento não são sinônimos. Nem sempre aquilo que nos desperta interesse é algo que nós dominamos. O conhecimento de um tema, um saber, uma técnica ou uma prática não se dá de um dia para o outro, mas sim por um processo gradual e contínuo: é uma construção. A mesma coisa acontece com a política. Se pensarmos que a educação é um conjunto de processos de ensino-aprendizagem visando compartilhar saberes entre os membros de uma sociedade, é possível, portanto, nos educarmos politicamente. É aí que entra a Educação Política.
Em uma sociedade multicultural e multiétnica, atravessada por marcadores sociais de raça, gênero e classe, entender o que é política e como ela funciona é de extrema importância. Esse tipo de educação pode se iniciar desde a infância, tanto no âmbito familiar quanto no escolar. Não é raro escutarmos de nossas crianças indagações sobre o que é um/a deputado/a ou o que a/o presidenta/e faz (sobretudo em época de eleições). Essas indagações podem ser vistas como faíscas disparadoras de reflexões um pouco mais amplas, por exemplo, o que caracterizaria uma boa governança; quais valores são fundamentais em uma democracia; quais atitudes não podem ocorrer em um governo democrático…
Veja, uma das coisas mais interessantes na educação é que o processo de ensino-aprendizagem é uma via de mão dupla: quem ensina, aprende e quem aprende, ensina. Dessa forma, independente da nossa faixa etária, a educação política sempre terá um lugar na nossa vida. E se essa formação for iniciada desde cedo, o desenvolvimento cognitivo e intelectual ocorrerá com muito mais fluidez quando os temas mais embaraçados começarem a surgir. Assim, podemos começar indagando o que faz um/a vereador/a, passar pelas regras e normas do jogo institucional para depois entender a política de forma ampla e não apenas localizada nos gabinetes dos/as políticos/as. Ou seja, enxergar a política como a forma que organizamos e entendemos as nossas múltiplas relações de poder presentes no nosso cotidiano. Essa constatação é tão poderosa que nos faz enxergar política em tudo a nosso redor: o preço dos alimentos, o local onde moramos, com quem nos relacionamos, a vida que vivemos…
Qual a consequência direta dessa potencialidade toda? Entender que a realidade em que vivemos não foi naturalmente concebida, mas resultado das múltiplas atuações dos seres humanos ao longo da história. Essa conclusão nos permite compreender que os direitos (desiguais) que temos são frutos das lutas de gerações de pessoas e que do mesmo jeito que eles foram conquistados pela participação política e pelo exercício da cidadania, eles podem ser ameaçados ou destituídos.
Por fim, podemos dizer que a educação política guarda uma relação direta com o próprio regime democrático: se o poder emana do povo, é necessário formação e informação para que a participação política seja efetiva e responsável.
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